>>Trecho de
reportagem de ÉPOCA desta semana.
Três
anos atrás, enquanto o mundo ainda estava nas trevas da crise de 2008, o Brasil
brilhava como um Sol ao meio-dia. O país crescia em ritmo acelerado, ajudado
pelas medidas de estímulo do governo, e acabara de ser escolhido como palco da
Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. O brilho iluminava nossas vantagens
competitivas – um ambiente institucional mais sólido que noutros países
emergentes, um mercado interno gigantesco, uma agroindústria pujante e imensas riquezas minerais
e energéticas. As publicações internacionais davam de ombros para os gargalos
históricos da economia brasileira
e reverenciavam o então presidente, Luiz Inácio Lula da
Silva. A austera revista britânica The Economist chegou a
publicar uma reportagem de capa exaltando a força e o dinamismo do país. Sob o
título “O Brasil decola”, a reportagem era ilustrada pela figura do Cristo
Redentor disparando como um foguete em direção ao espaço sideral. O eterno país
do futuro, outrora marcado por calotes nos credores externos, uma inflação
estratosférica e um crescimento pífio,
parecia ter se tornado enfim o país do presente, pronto para realizar seu potencial.
Parecia.
A
lua de mel durou pouco. No fim do ano passado, a percepção do Brasil no
exterior, que se deteriorava gradualmente desde o final do governo Lula, piorou
muito. Nos últimos meses, as críticas se multiplicaram e se tornaram ainda mais
fortes. Como num eclipse que oculta os raios do Sol, o brilho do Brasil perdeu
intensidade na arena global. “A ideia do Brasil decolando passou”, disse a
ÉPOCA o megainvestidor Mark Mobius, presidente da Templeton Emerging Markets,
empresa que administra um patrimônio de US$ 54 bilhões em mercados emergentes,
US$ 4,3 bilhões no Brasil. “A percepção do Brasil pelos investidores
estrangeiros está no pior momento desde 2002”, afirma o cientista político
Christopher Garman, diretor da área de estratégia para mercados emergentes do Eurasia
Group, uma consultoria americana especializada na análise de riscos políticos.
“Exceto em circunstâncias excepcionais, o mundo não se deixa enganar por muito
tempo”, diz Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e ex-secretário-geral da
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). A
mesma Economist, que louvara o Brasil três anos antes, defendeu
recentemente em editorial a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega,
considerado inepto para garantir o crescimento de que o país carece. “Aquela
capa do Cristo Redentor falava que o Brasil estava decolando e não que tinha
chegado à Lua”, afirma a correspondente da Economist no Brasil, Helen
Joyce. “Aquele momento especial chegou ao fim.”
A mudança radical na imagem do Brasil lá fora tem a ver, em boa
medida, com o desempenho sofrível da economia brasileira. Depois de crescer
7,5% em 2010, no último ano do governo Lula, o país desacelerou. Para
desconforto da presidente Dilma Rousseff e de sua equipe econômica,
confirmaram-se as previsões mais pessimistas dos economistas. Em 2011, o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não passou de 2,5%, um resultado
apenas razoável para um país emergente do porte do Brasil. Em 2012, de acordo
com as projeções oficiais, ele desacelerou ainda mais, para 1,35%. É um patamar
bem inferior à média mundial no período, de 3,3%, e das estimativas
hiperotimistas, de até 5%, feitas por Mantega no início do ano passado. “Lula
manteve sem necessidade os estímulos econômicos criados no combate à crise para
gerar um clima de euforia e eleger Dilma presidente”, afirma Ricupero. “Mas ele
sabia que o dia do juízo chegaria depois.”
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